Eu terminei as últimas linhas desse livro há poucos instantes.
Ao me deparar com o ponto final, uma frase me escapou dos lábios - e foi um palavrão.
Clarice sempre me inquietou. Mas acredito que nunca consegui compreendê-la inteiramente. Na verdade, acho que a maioria das pessoas que admiram Clarice não a compreendem verdadeiramente.
Talvez por isso me identifique tanto com ela.
Clarice Lispector é uma escritora ucraniana e naturalizada brasileira. Escreveu inúmeros romances, contos, ensaios... além de traduções de grandes livros para o português. Clarice é um dos grandes nomes da literatura brasileira.
A forma como Clarice escreve é incrível. Ela consegue transmitir ao papel a mesma maneira bagunçadamente organizada com que o nosso cérebro vai gerando ideias e conceitos. Em certos trechos nos falta o ar.
A Paixão segundo G.H. trata de uma epifania. É uma jornada de autodescobrimento que uma mulher bem sucedida faz após provar a massa branca do interior de uma barata. Isso mesmo. É exatamente isso que você leu.
O livro inteiro é uma epifania. Indagações sobre o que é ser humano, sobre a linguagem, sobre o amor, sobre a esperança... tudo isso a partir da degustação do interior de uma barata. Clarice é incrível e é por isso que não consigo falar dela sem sentir a necessidade de usar palavrões como adjetivos.
Clarice não é simples. Ela é complexa, intensa, devastadora. Ela não é sequer morna. Ela é um soco no estômago... ela vem trazer a realidade. Mas não a realidade visível, palpável. A realidade escondida, velada... aquilo sobre o que nos recusamos (ou nem nos preocupamos) a pensar.
Vale muito a pena ler "A paixão segundo GH". Mas adianto que não é um livro para iniciantes. É um livro para aqueles que querem pensar, se incomodar, refletir... filosofar.
"Mais forte que esperança, mais forte que amor?
Eu me aproximava do que acho que era - confiança."
E por hoje é só, pessoal.