quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Do Subsolo

    Acabei de terminar "Notas do Subsolo" de Dostoiévski, e confesso que mesmo antes do ponto final, já me deparava com a necessidade de escrever sobre ele.

   Como a maioria dos livros de Dostoiévski, esse também demora a "engatar", mas aos leitores persistentes, reserva momentos únicos de deleite literário. É um exemplar existencialista, psicológico, profundo, sombrio... é um mergulho na alma humana.

   Definitivamente não se trata de um livro entretenimento, mas de livro reflexão. Daqueles capazes de incutir profundos questionamentos sobre a existência humana e suas formas de se relacionar com o ambiente e com os outros seres humanos.

   Aos amantes do existencialismo e da psicologia é certeza de deleite. Aos demais, pouco provável que passem da fase de "engate".

"E de fato agora eu mesmo estou colocando uma questão ociosa: é melhor uma felicidade barata ou um sofrimento elevado? Então, o que é melhor?"


E por hoje é só, pessoal!!

sábado, 12 de novembro de 2016

Viagem ao Centro da Terra - Julio Verne

 Viagem ao centro da Terra, é um clássico do gênero ficção científica. Originalmente publicado em francês, na segunda metade do século XIX (1864), por Julio Verne - considerado o primeiro grande escritor do gênero.

 Trata-se basicamente de uma história narrada em primeira pessoa, pelo personagem Axel, sobre uma aventura em direção ao centro da terra.

 Tudo começa com um pergaminho escrito em código, que após decifrado dá coordenadas para a jornada ao centro da terra. Soma-se a isso o fato de o centro da terra não se apresentar como um maciço bloco de metal efervescente, como aprendemos na escola, mas como um mundo paralelo, parado no tempo, com serem extraordinários, plantas magníficas, fenômenos físicos e químicos mal explicados... É um excelente entretenimento, capaz de conduzir o leitor a terras nunca antes exploradas.

 A leitura é fácil, superficial. Não é necessário super concentração, nem aquela busca pelo sentido nas entrelinhas. Viagem ao Centro da Terra é aquele livro amigo, parceiro nas filas do banco, nas rodoviárias e aeroportos. É livro feito para divertir, para descansar a mente, sem maiores objetivos.

Valorizo muito esse tipo de livro, principalmente naqueles momentos em que tudo o que queremos é simplicidade, sem sentidos ocultos, sem forçar a interpretação... apenas divertimento.




Por hoje é só, pessoal!

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A Paixão segundo G.H. - Clarice Lispector



Eu terminei as últimas linhas desse livro há poucos instantes.

 Ao me deparar com o ponto final, uma frase me escapou dos lábios - e foi um palavrão.

 Clarice sempre me inquietou. Mas acredito que nunca consegui compreendê-la inteiramente. Na verdade, acho que a maioria das pessoas que admiram Clarice não a compreendem verdadeiramente. 

 Talvez por isso me identifique tanto com ela.

 Clarice Lispector é uma escritora ucraniana e naturalizada brasileira. Escreveu inúmeros romances, contos, ensaios... além de traduções de grandes livros para o português. Clarice é um dos grandes nomes da literatura brasileira.

 A forma como Clarice escreve é incrível. Ela consegue transmitir ao papel a mesma maneira bagunçadamente organizada com que o nosso cérebro vai gerando ideias e conceitos. Em certos trechos nos falta o ar.

 A Paixão segundo G.H. trata de uma epifania. É uma jornada de autodescobrimento que uma mulher bem sucedida faz após provar a massa branca do interior de uma barata. Isso mesmo. É exatamente isso que você leu.

 O livro inteiro é uma epifania. Indagações sobre o que é ser humano, sobre a linguagem, sobre o amor, sobre a esperança... tudo isso a partir da degustação do interior de uma barata. Clarice é incrível e é por isso que não consigo falar dela sem sentir a necessidade de usar palavrões como adjetivos.

 Clarice não é simples. Ela é complexa, intensa, devastadora. Ela não é sequer morna. Ela é um soco no estômago... ela vem trazer a realidade. Mas não a realidade visível, palpável. A realidade escondida, velada... aquilo sobre o que nos recusamos (ou nem nos preocupamos) a pensar. 

 Vale muito a pena ler "A paixão segundo GH". Mas adianto que não é um livro para iniciantes. É um livro para aqueles que querem pensar, se incomodar, refletir... filosofar.

 "Mais forte que esperança, mais forte que amor?
   Eu me aproximava do que acho que era - confiança."

E por hoje é só, pessoal.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Sobre Austen


A postagem de hoje é especial.

É certo que o mundo da literatura se abriu para mim com a série Harry Potter, quando eu tinha a mesma idade que Harry no primeiro livro (11 anos), mas eu realmente me apaixonei por esse mundo através de Austen.

Eu sei que muitos colocam Sheakespere, Charlotte Brönte, Tom Hardy... e tantos outros acima de Jane Austen, mas para mim, nenhum autor escreveu livros tão apaixonantes quanto ela. A forma como ela transforma o cotidiano em algo emocionante, como ela descreve as relações pessoais na Inglaterra do século XVIII e como ela transforma mulheres comuns em heroínas virtuosas tornam seus livros encantadores. Tudo isso de uma forma simples. Livros simplesmente encantadores.

Apesar de uma curta carreira literária, devido a sua morte precoce aos 41 anos, Austen escreveu grandes clássicos da literatura inglesa, dentre os quais, "Orgulho e Preconceito" (livro pelo qual tenho grande apreço e já li e reli ao menos cinco vezes), "A Abadia de Northanger", "Persuasão", "Mansfield Park" e "Razão e Sensibilidade". 

Confesso que dentre os citados eu já li todos mais de uma vez, exceto "Razão e Sensibilidade". Acredito que de todos é o menos profundo, com o perdão da palavra, pois chamar qualquer livro de Austen de raso é um imenso crime literário. 

Considero "Orgulho e Preconceito" o meu livro preferido. É mágico a forma como somos transportados para o interior da Inglaterra do século XVIII e nos vemos em meio aos bailes, aos jantares... como conseguimos nos encantar por uma jovem de vinte e poucos anos com ideais bem firmados e com opiniões tão próprias. Acredito que a maior mensagem desse livro é que qualquer um pode ser um herói da própria vida, basta ter forças para não se corromper, ser honesto e fiel ao que acredita.

Sobre  "A Abadia de Northanger", eu tenho um carinho enorme. É um livro de leitura leve, um tanto cômica e cheio de ironias. Amo isso. Nesse livro Austen deposita todos seus sentimentos com relação ao sucesso dos romances góticos na época e a forma com que eles influenciavam a forma de pensar e agir das mulheres. A referência a Lady Radcliff é constante.

A respeito de "Persuasão", considero o romance mais maduro. Nele, a heroína não é mais uma jovem, mas uma mulher mais velha, que renunciou ao amor por convenções sociais e de repente se vê à frente de seu grande amor após muitos anos. O que você faria? 

Quanto a "Mansfield Park", acho que é o livro que mais toca nas diferenças sociais relacionadas ao poder econômico. Também trata de como o amor nasce aos poucos, através de pequenos gestos, a partir da convivência e da amizade, e quando menos se espera, inunda e aquece completamente o coração.

Todos os livros de Austen são profundos e levam a uma reflexão. Tratam principalmente de relações sociais e de como elas são construídas, tratam de convenções e de como é importante respeitá-las. Apesar da mensagem reflexiva, são livros leves, que entretêm, cuja narrativa é fluida e conseguem manter o leitor preso até o final.

Vale muito a pena ler Austen.

E por hoje é só, pessoal!